O pescador João Batista Monteiro, 59, sempre ouviu uma conversa "mal explicada" no povoado de Experimento, próximo a Pinheiro (MA), de que o pai dos filhos da sobrinha Sandra Maria Monteiro era o seu ex-cunhado, o lavrador José Agostinho Bispo Pereira, 54, pai de Sandra. Diz que só acreditou na história quando soube da prisão dele pela TV.
"Só acreditei quando passou na TV. Meu sangue ferveu. Se eu soubesse, há muito tempo tinha pedido à polícia para prendê-lo", disse, à Folha na sexta-feira.
Na terça-feira, o lavrador Bispo Pereira, 54, foi preso sob a acusação de manter em cárcere privado a filha Sandra, com quem teve sete filhos-netos. Ela e as crianças estão sob proteção do Conselho Tutelar.João Monteiro é irmão da mãe de Sandra, a doméstica Maria Alerte Monteiro, de quem diz não saber o paradeiro. É com ele que está a guarda do bebê de dois meses, que seria o sétimo filho-neto de Pereira e de Sandra.
Segundo o pescador, um dia Maria Arlete, que hoje tem 40 anos, ficou com tuberculose, deixou o povoado e foi se tratar em Pinheiro. Depois que sarou, começou a trabalhar na cidade. "O Agostinho aceitou numa boa. Só que ela não quis mais saber dele."
Sandra levou o bebê para o tio no dia 16 de maio, 30 dias depois de ele ter nascido. "Ela veio dizer que ia dar o pequeno pra nós. Mas eu não quis." Pai e filha voltaram para o povoado.
Dez dias depois, os dois retornaram à casa de Monteiro. "Quando ela chegou, banhou o menino e deu comida. Chegou e disse: 'Titio, já estou indo'. Meia hora depois, ouvi um choro no quarto, era o pequeno, e com fome. Ele nem tinha nome."
Assustado, o pescador foi orientado a procurar o Conselho Tutelar. "Quando vi, ela chegou aqui com o pessoal do conselho, procurando a criança. Me disseram [o conselho] para eu ficar com a criança até solução do problema. É essa a história desse aqui", afirmou o pescador, segurando o menino no colo.
DNA
Para confirmar a paternidade, as crianças, que têm 1, 3, 6, 8, 10 e 13 anos de idade, além do bebê que está com o tio, passaram por coleta de material para exame de DNA nesta semana. O resultado deve ficar pronto em um mês.A mãe das crianças descreveu nesta semana como era o relacionamento com o pai. Analfabeta e abandonada pela mãe, ela contou à Folha que viveu desde os 12 anos sem saber que a violência sexual, o cárcere privado e os maus-tratos cometidos pelo pai eram crimes.
"Ele me batia muito, me empurrava. Ele me procurava de três em três dias, de oito em oito dias, mas eu não pensava que isso fosse crime."
A equipe de resgate encontrou os meninos e meninas com fome e praticamente sem roupas. "O lugar parecia um chiqueiro. O chão era de areia, uma imundície", diz José de Ribamar Brito, do Conselho Tutelar de Pinheiro, sobre o casebre.
Folha on line
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