Professor de jornalismo gráfico desmonta vídeo quadro a quadro e aponta truque de compressão de imagens
Por Antonio Martins
Urgente (22/10, 12h16): Desde o final da manha desta sexta (22/10), o site do professor José Antonio Meira da Rocha (http://meiradarocha.jor.br) foi bloqueado pela empresa que o hospeda — no que pode ser um caso grave de censura na internet. Em decorrência, as imagens que sustentavam a hipótese levantada por ele desapareceram, em dezenas de blogs que reproduziam suas informações.
O material foi republicado, em seguida, no blog Marxismo On-Line, de Leonardo Arnt — de onde foi reproduzido por Outras Palavras
O Jornal Nacional de ontem fez lembrar o envolvimento da Rede Globo na disputa presidencial que elegeu Fernando Collor, em 1989. Nada menos que 7 minutos foram dedicados à tentativa de demonstrar que José Serra fora atingido, na véspera, por um rolo de fita adesiva. Convocou-se Ricardo Molina, um “especialista” cujo currículo inclui a tentativa de acusar o MST pelo massacre de Eldorado de Carajás, de “assegurar” que PC Farias se suicidou e de questionar as provas sobre a responsabilidade da família Nardoni na morte da menina Isabela. Procurava-se frear a onda de indignação (e de deboche) que correu o país, quando se soube, horas antes, que a “agressão” sofrida na véspera pelo candidato do PSDB fora provocada por uma bolinha de papel. Não, tentou afirmar o Jornal Nacional: a tomografia a que se submeteu o candidato justificava-se. Ele havia sido atingido também por um rolo de fita adesiva…
Até mesmo esta versão está sendo contestada agora. José Antonio Meira da Rocha, professor de Jornalismo Gráfico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), analisou as imagens do Jornal Nacional quadro a quadro e chegou às seguintes conclusões, publicadas em seu blog: a) o suposto rolo de fita crepe, ou durex, não aparece em nenhum dos quadros anteriores ou posteriores ao momento em que se “choca” com a cabeça de Serra. Teria surgido do nada; b) um truque elementar na manipulação de vídeos (um artifact de compressão) é suficiente para gerar imagem idêntica à exibida no Jornal Nacional.
A análise de Meira Rocha pode ser conferida abaixo. Adicionalmente, um post no blog de Luís Nassif mostra: o suposto “choque” da fita adesiva com a cabeça de Serra deu-se numa parte da cabeça totalmente distinta daquela em que, segundo seu médico, ele foi atingido…
Leia, a partir daqui, a análise do professor José Antonio Meira da Rocha
Toda a produção jornalística pode ser digitalizada. Tudo o que é publicado está à mercê de chatos que salvam, gravam, colecionam, digitalizam com plaquinhas de 120 reais. Como eu, que gosto de gravar TV na minha Pixelview PlayTV Pro.
Por isso, hoje, é inconcebível que a grande imprensa, sofrendo há muito com as mudanças provocadas pela digitalização, tente enganar seu digitalizado público com armações grotescas como esta aprontada pelo Jornal Nacional de 2010-10-22, com ajuda da Folha.com e do repórter Ítalo Nogueira.
Será que a velha mídia não se dá conta que qualquer pessoa pode gravar TV e passar quadro-a-quadro? E que, fazendo isto, a pessoa pode ver que não há nenhum rolo de fita crepe sendo atirado contra o candidato José Serra? Que o detalhe salientado em zoom numa extensa matéria de 7 minutos não passava de um artifact de compressão de vídeo sobreposto à cabeça de alguém ao fundo? Que não se vê no vídeo quadro-a-quadro nenhum objeto indo ou vindo à cabeça do candidato?
E a Globo ainda vai procurar a opinião de um “especialista” de reputação duvidosa…
Tudo pode ser digitalizado, menos a credibilidade de um veículo jornalístico. E este único ativo que sobra à velha mídia, ela joga fora…
Fonte: carta capital